20 dicembre 2010

Fonti orali e potere: una conferenza in Brasile

Conferenza di chiusura del congresso nazionale dell'Associazione brasiliana degli insegnanti di storia (ANPUH), Università di Fortaleza, luglio 2009.

História Oral e Poder
Alessandro Portelli

Boa noite. Espero que vocês tenham paciência com meu espanhol, que é horrível e um pouco imaginário, mas é melhor do que o meu português, que não existe. Confiante, porque todas as pessoas que encontrei aqui no Brasil são muito gentis e acolhedoras, vou tentar. Porém quero, antes de tudo, agradecer à Telma , à professora Adelaide , à ANPUH e a todos os participantes deste Simpósio, porque estes dias têm sido muito interessantes e muito agradáveis.
Bem, para dar início ao tema, nos anos 50, o etnógrafo e antropólogo italiano Ernesto De Martino começava uma investigação sobre a cultura tradicional da Itália do sul, de Lucânia, Puglia – as regiões mais pobres e mais subdesenvolvidas, as mais ignoradas e excluídas de toda a nação italiana. Em um de seus artigos, ele escrevia: “Eu entrava nas casas desses camponeses pobres, olhando-os não só como informantes para um conhecimento antropológico, mas como cidadãos de meu país – cidadãos com os quais eu tinha a intenção de construir uma história compartilhada, uma história comum”.
Essa era a gente que o filósofo italiano Benedetto Croce dizia que estava fora da História, e que Ernesto De Martino, bem como outros historiadores e sociólogos italianos – Gianni Bosio, Danilo Montaldi, Rocco Scotelaro – tratavam de incluir na História como sujeitos ativos da política e da democracia que se ia construir no pós-guerra. Então, a coisa mais importante no trabalho com fontes orais, no trabalho de campo, é que não se trata de trabalhar com papéis, ou com coisas, ou com animais, mas de trabalhar com seres humanos, com cidadãos, com nossos iguais. É um trabalho de relação e, como todos os trabalhos de relação, levanta questões políticas e questões éticas. Isso é fundamental.
Bem, o problema do poder e da ética no trabalho com fontes orais se coloca em distintos níveis: no da relação do historiador, do pesquisador, com as instituições do poder político, cultural e acadêmico; e no da relação entre o historiador e os sujeitos que nos ajudam a buscar uma história alternativa, uma História outra.
Por que buscamos fontes orais? Por que trabalhamos com elas? Não só porque as pessoas que entrevistamos possuem informações de que precisamos, que nos interessam. É mais do que isso. É porque há uma relação profunda, uma relação muito intensa, entre a oralidade e a democracia. Todos os meios de comunicação, do scanner ao computer, excluem uma parte da humanidade. Há pessoas que não sabem escrever ou ler; há pessoas que não manejam o computador; porém a voz, a oralidade, é um meio de comunicação que todos os seres humanos possuem e, de alguma maneira, controlam. Então, quando buscamos fontes orais, as buscamos em primeiro lugar porque na oralidade encontramos a forma de comunicar específica de todos os que estão excluídos, marginalizados, na mídia e no discurso público. Buscamos fontes orais porque queremos que essas vozes – que, sim, existem, porém ninguém as escuta, ou poucos as escutam – tenham acesso à esfera pública, ao discurso público, e o modifiquem radicalmente.
Com frequência se diz que, na História Oral, damos voz aos sem voz. Não é assim. Se não tivessem voz, não teríamos nada a gravar, não teríamos nada a escutar. Os excluídos, os marginalizados, os sem-poder sim, têm voz, mas não há ninguém que os escute. Essa voz está incluída num espaço limitado. O que fazemos é recolher essa voz, amplificá-la e levá-la ao espaço público do discurso e da palavra. Isso é um trabalho político, porque tem a ver não só com o direito à palavra, o direito básico de falar, mas com o direito de falar e de que se faça caso, de falar e ser ouvido, ser escutado, de ter um papel no discurso público e nas instituições políticas, na democracia.
O segundo nível remete à relação entre os historiadores e os narradores orais que entrevistamos. Porque, como eu dizia antes, não são objetos da investigação, mas sujeitos de um projeto compartilhado, de um diálogo entre entrevistado e entrevistador. Um diálogo em que os papéis se modificam, mudam, em que nem sempre é o historiador quem faz as perguntas, há perguntas colocadas pelo entrevistado. Há duas agendas que se encontram: a agenda do historiador, que tem perguntas, algumas coisas que queremos saber; e a agenda do entrevistado, que aproveita a presença do historiador para contar as histórias que quer contar, as quais não são necessariamente as histórias que buscamos. E talvez, amiúde, são mais interessantes do que as histórias que buscamos.
Por exemplo, em Terni, que é uma cidade industrial, de fábricas de aço, na Itália central, eu buscava memórias da Resistência clandestina contra o fascismo nos anos 30. Entrevistei uma senhora cujo irmão estivera no movimento antifascista clandestino e fora uma pessoa bastante importante na Resistência. Mas a senhora não queria falar disso; ou melhor, queria falar disso, porém queria mais falar de outras coisas. A coisa importante de que ela queria falar era sua história de amor fracassada com um fascista nos anos 20 e 30. Quando eu perguntava sobre seu irmão, ela me respondia muito rápido e introduzia a história de seu namorado. Eu perguntava sobre o irmão e ela me falava sobre o namoro.
Enfim, pensei, a arte do diálogo é uma arte de paciência, é uma arte de flexibilidade: deixemo-la falar do que lhe interessa, depois voltarei a falar do irmão. Só que, no fim, não falei do irmão, porque a história de amor que ela contava era uma história que politicamente, historiograficamente, socialmente, era muito mais importante do que a história de um antifascista a mais, que já havia muitas. No livro que Telma acaba de mencionar, “Biografia de uma cidade” , há três linhas sobre o irmão antifascista, entre outras, e um capítulo inteiro sobre essa história de amor. Porque a subjetividade, os sentimentos, as paixões são coisas de História que talvez sejam mais importantes do que as coisas da política; são uma política mais funda, mais radical, que faz parte do sangue e das veias das pessoas com quem falamos. Então, a entrevista não é um ato de extrair informações, e sim o abrir-se de um espaço de narração, um espaço compartilhado de narração, em que a presença do historiador oferece ao entrevistado alguém que está ali para escutá-lo, coisa que não lhe ocorre com frequência.
Todos conhecemos a experiência de anciãos que têm filhos e netos que não os deixam falar: “Não, papai, vovô....De novo essas histórias sobre a guerra mundial, que tédio!”. E chega uma pessoa que, profissionalmente, está ali para escutá-los falar da História da Guerra Mundial que seus netos e filhos não querem escutar. O que se oferece é uma possibilidade de fala, é um espaço narrativo em que a agenda do historiador e a agenda do entrevistado se encontram. Há uma negociação, há uma troca de perguntas e de respostas: nem todas as perguntas têm respostas, nem todas as respostas têm perguntas e se procede dialogicamente. Por isso, se coloca na entrevista a questão do poder: quem tem o poder na entrevista?; quem está no controle da entrevista?
O historiador oral Michael Frisch fala da História Oral como uma shared authority, uma autoridade compartilhada. Porque podemos ser professores e catedráticos entrevistando uma analfabeta; porém, na entrevista, quem tem o saber de que se necessita é a analfabeta. Nós estamos ali porque não sabemos coisas que os entrevistados sabem. Trata-se de uma experiência de aprendizagem para nós, para o historiador, e é uma experiência em que a relação entre quem ensina e quem aprende se inverte, se troca.
Em Kentucky, nos Estados Unidos, fui fazer entrevistas com mineiros. Todos me haviam dito que, em Kentucky, não queriam falar com estrangeiros, com gente desconhecida, com gente de fora. Passaram alguns anos e todos falaram, todos eram muito gentis, muito abertos. Perguntei a uma das minhas entrevistadas, uma senhora que trabalha nas minas e também escreve poesias: “Por que todos me tratam assim, bem? Por que são todos tão abertos?” E ela me respondeu: “Bom, primeiro, você não é de Nova York, não é de Chicago, quer dizer, não vem dos lugares de onde vieram os missionários, os sociólogos, os capitalistas, até mesmo os militantes de esquerda, todos os que vieram a Kentucky para dizer à gente o que tínhamos que fazer, para ensinar-nos coisas. Primeiro, o lugar de onde você vem; segundo, se vê muito bem que você não sabe muito sobre minas e sobre este lugar. Está somente tratando de aprender um pouco, de aprender algumas coisas. E a gente fica muito contente de ajudar.”
Ora, o que eu tinha, o que eu levava para a entrevista era minha ignorância, meu desejo autêntico de aprender. E eles me ajudavam porque o poder estava em suas mãos, porque tinham o saber que me faltava e a possibilidade de oferecê-lo, de proporcioná-lo a mim, ou de retê-lo; de falar ou de calar-se. Tinham esse poder e estavam muito contentes em exercer esse poder, em ajudar esse pobre professor europeu, vindo do outro lado do mar, que não sabe nada de nossa vida e do nosso trabalho, e que trata de aprender algo.
Bem, então a entrevista se coloca em um contexto sócio-histórico no qual existe uma diferença, e essa diferença, amiúde, é uma diferença que cria uma desigualdade entre o historiador, o entrevistador, e o entrevistado. Porque se é verdade que o entrevistado tem o poder do controle do saber que buscamos, socialmente o historiador pertence a uma classe que tem mais poder do que a classe da maioria das pessoas que entrevistamos.
É a diferença que faz com que a entrevista seja interessante, porque aprendemos algo se falamos com alguém diferente, alguém distinto de nós; mas essa diferença é também diferença de poder social e de poder cultural. Na situação de entrevista, a desigualdade é o argumento implícito, não dito, que se coloca subterraneamente, e que é o tema fundamental do diálogo: duas pessoas que vivem em uma desigualdade de poder de classe, de gênero, de educação, de gerações se falam na intenção de se falarem como se fossem iguais, sabendo bem que não o são.
Assim, a entrevista é um experimento de igualdade, é um momento utópico – momento utópico em que tratamos de imaginar como poderia ser o mundo se o camponês pobre e o professor catedrático fossem política e socialmente iguais. É um momento utópico e também um momento crítico, porque se reconhece a injustiça social que tratamos de iluminar, de criticar e de destruir. Logo, não há técnicas de entrevista, mas éticas na entrevista: respeito, paciência, flexibilidade, paixão autêntica de conhecer os outros e de estar com eles em uma história compartilhada, como dizia Ernesto De Martino.
O próximo nível concerne ao que fazemos quando acaba a entrevista, porque, quando a entrevista termina, voltamos para casa, para a universidade, e começamos a escrever nossos artigos, nossos livros, ou a fazer nossos vídeos, nossos documentários, ou algo assim. E, nesse momento, o poder está em nossas mãos. Porque a palavra que recebemos é uma palavra alheia; porém a palavra que escrevemos, essa é nossa, essa está em nosso nome, aquele que aparece na capa dos livros que escrevemos. Mas essa palavra nossa, esses livros que levam nossos nomes não os produzimos somente com nossas palavras; nós os produzimos com as palavras alheias que os entrevistados nos confiaram no encontro dialógico. Pois a relação entre o entrevistador e o entrevistado não se acaba ao desligar o gravador ou a câmera de vídeo; ela continua, continua na responsabilidade que nos confiam no momento em que nos dão de presente ou nos emprestam essas palavras, esses contos que não nos pertencem; que, como dizia Woody Guthrie, um cantor popular e poeta proletário norte-americano, não são nossa propriedade privada. São palavras que recolhemos, que temos em confiança, para delas fazer o melhor uso possível em nome daqueles que as confiaram a nós.
É preciso, então, que as palavras que utilizamos em nosso trabalho permaneçam propriedade dos entrevistados. Não sei se juridicamente, mas moralmente são propriedade de seus autores originais. Nós as pomos em nossos livros, mas não são propriedade nossa; não estão em nosso poder moralmente, eticamente e politicamente. Porque a doação, o presente, o empréstimo, o confiar das palavras implica a responsabilidade. O poder que temos, o poder do historiador quando termina a entrevista, consiste sobretudo no tipo de poder que falta aos entrevistados. Os entrevistados nos deram a voz, não fomos nós que a demos a eles; eles nos deram a voz que nos permite escrever livros onde estão vozes e, através de nós, através de nosso poder político, acadêmico, cultural, através de nossa atividade científica ou de publicação, jornalística ou o que seja, esta palavra privada e quase nunca ouvida, dos pobres, dos excluídos, dos marginais se torna parte do discurso público, se torna fonte histórica.
Quando escrevi meu livro sobre Terni, “Biografia de uma cidade”, comentado aqui, aos partisanos antifascistas que eu havia entrevistado não parecia uma coisa muito significativa que suas entrevistas, seus nomes, aparecessem no meu livro – “Bem, esse é Sandro, que escreveu seu livro”. Eles se deram conta de que algo havia acontecido apenas quando suas palavras, suas vidas, que estavam em meu livro, foram citadas em outros livros, como aquele, muito importante, de Claudio Pavone, que é a História clássica da Resistência na Itália. Foi quando encontraram suas palavras não em meu livro, mas no livro de um historiador muito mais importante do que eu, que se deram conta de que, falando comigo, suas memórias, suas experiências da Resistência e da luta antifascista tinham saído do espaço local, do espaço privado, e se haviam tornado parte do discurso historiográfico compartilhado da História do antifascismo no nosso país. Então, o problema é: o que acontece com essas palavras quando as tiramos de seu contexto e as oferecemos ao uso público, quando se tornam fontes históricas?
Vejam, a responsabilidade mais importante que temos é com os entrevistados. Somos mediadores, somos como um canal em que as palavras passam de um espaço comunicativo a um espaço mais amplo. E a responsabilidade, a primeira responsabilidade é a de representar os entrevistados com sua linguagem, com sua subjetividade, é a de apresentá-los de uma maneira que eles queiram aparecer na esfera pública. No momento em que suas palavras se tornam parte do nosso discurso, é preciso que não causemos dano, que as citemos com respeito, sem paternalismo, sem humilhá-los.
Há uma linha muito complexa, muito difícil, entre o respeito para com a expressão oral, em que está muito do poder comunicativo, e o desejo dos entrevistados de não aparecer como se não fossem capazes de falar corretamente. Sendo assim, a negociação que começara na entrevista prossegue na transcrição e, sobretudo, na maneira como editamos essas palavras que são alheias, que não pertencem a nós, em como as apresentamos publicamente. Uma coisa que é mais fácil agora, com todos os meios disponíveis, como o e-mail e tudo o mais, é submeter aos entrevistados as citações que vamos utilizar em nossas publicações e ver se se reconhecem nelas. Porque eventualmente preferem alterar algo, ou modificá-lo, e às vezes as mudanças que querem são alterações que, de alguma maneira, destroem o poder comunicativo da oralidade. Então a negociação continua e há um debate: que palavras vamos utilizar? Como vamos escrevê-las?
A ética da entrevista, a ética da História Oral, não se resolve, portanto, com a obtenção de uma ficha com a autorização para publicar; ou isso é apenas uma proteção para nós, para que não possam levar-nos aos tribunais. Porém a coisa mais importante é que o respeito para com as pessoas e as palavras vivas com que trabalhamos prossiga, continue no trabalho de publicação, no trabalho público. O mesmo vale quando colocamos as fitas ou as gravações em um arquivo, porque o problema é que o arquivo existe para que pessoas que não fizeram as entrevistas tenham acesso a elas e possam usá-las em um trabalho histórico. Bem, essas palavras nos foram confiadas não em abstrato, nos foram confiadas pessoalmente; portanto, continuamos responsáveis pela utilização que os usuários de arquivos delas farão. Se alguém utiliza uma entrevista que eu fiz e coloquei no arquivo, é minha responsabilidade assegurar-me de que o entrevistado o saiba, ou, se não o sabe, que haja um controle sobre a utilização eticamente e politicamente correta.
Por isso, o que me fascina na História Oral é a experiência pessoal da entrevista, é entender todas essas histórias extraordinárias. O que considero fascinante é que, quando se escreve a História Oral – porque o que falamos na História Oral, depois escrevemos –, temos que escrever algo que se possa ler. Não é uma questão de fidelidade, pois não existe fidelidade quando transformamos um discurso oral maravilhoso em uma página escrita que não se pode ler, numa adaptação mecânica; é preciso, isso sim, que haja memória da origem oral. Pois as palavras que estão em nossos livros não se originam como texto, mas como performance, como busca da palavra, como tentativa de encontrar uma palavra justa para dizer algo que, com frequência, nunca disseram a um desconhecido, a um historiador. É, pois, um estilo de escritura que se situa numa linha entre o texto e a performance; entre palavras fixas, escritas, e palavras que se movem, palavras vivas, faladas. Não apenas isso, senão que o monólogo da escritura acadêmica – toda escritura, aliás, tende a ser monólogo – se transmuta em um diálogo, em um coro, em que atuamos como diretores de orquestra, ou diretores de cena, que é expressão de uma pluralidade de vozes e de sujeitos.
O discurso da História Oral, então, é um discurso contaminado, é um discurso multivocal, é um discurso que tem uma multidão de autores. Não só o que assina a capa ou que tem o nome no artigo, pois os autores são todos os que falaram e que estiveram no diálogo para que este livro, este artigo, existisse.
Enfim, o nível mais difícil, o das relações políticas, éticas e de poder. Trata-se da relações que temos, como intelectuais, e como intelectuais conscientes de nossa função social, com o poder político, cultural e acadêmico.
A História Oral não se originou como prática acadêmica. Na Itália, não há acadêmicos que tenham chegado à Universidade fazendo História Oral. Eu ensino Literatura Norte-Americana; outros estão desempregados, outros fazem outras coisas. A História Oral se originou nas margens, não só nas margens da academia, mas nas margens da política. Historiadores, sociólogos, ativistas como Ernesto De Martino, Gianni Bosio, Danilo Dolce, Danilo Montaldi, Cesare Bermani, e mesmo Luísa Passerini, todos tiveram problemas, não só com a academia – muitos deles nunca tiveram espaço na academia –, mas igualmente com a política. Porque levaram a sério a tarefa fundamental de todo trabalho intelectual, que é falar a verdade ao poder.
Esta é uma tarefa que todos temos como cidadãos, mas que é uma tarefa mais específica quando somos especialistas da palavra, especialistas da fala. Assim, falar a verdade ao poder é uma tarefa específica da História Oral, do trabalho de campo e do trabalho que se funda em relações pessoais entre sujeitos. E quando eu dizia falar a verdade ao poder, Bosio, Montaldi, Dolce falaram a verdade também ao poder da esquerda, também ao poder dos líderes dos partidos oficiais do movimento operário. Eram todos heréticos, eram todos marginais, e dessa margem começou a História Oral como compromisso ideal, ético, político.
Agora, estamos neste lugar maravilhoso, e neste simpósio tão importante, e é a primeira vez que nos damos conta de que a História Oral, por muitos anos rechaçada, menosprezada, agora ganhou o respeito das instituições acadêmicas, das instituições culturais. Isso é uma coisa muito importante, é o resultado do trabalho que todos fizemos para afinar nossos métodos, para sermos mais conscientes dos paradigmas metodológicos e cognoscitivos, dos procedimentos de investigação, de tudo isso. É, portanto, uma vitória; mas o direito da História Oral de ser respeitada não quer dizer que ela se tenha tornado respeitável. Não quer dizer que ela se tenha tornado simplesmente uma ferramenta como qualquer outra na pluralidade de ferramentas do trabalho profissional da História. É algo mais, porque toda História é algo mais: não só conhecimento do passado, mas intenção de mudar o presente e o futuro.
Essa mudança começa no momento mesmo da entrevista. Porque eu sempre acreditei que se você, como entrevistador, não sai da entrevista diferente de como nela entrou, e se o entrevistado não sai da entrevista diferente de como nela entrou, a própria entrevista, não que tenha sido um fracasso, mas não desenvolveu todas as possibilidades do encontro e do diálogo. É fácil ver que o entrevistador muda, pois aprendemos muitas coisas. Porém a entrevista é também um desafio que colocamos ao entrevistado, porque ele tem que organizar a narrativa, o conto, a interpretação de sua vida de uma forma nova, de uma forma mais complexa e de uma forma que alguém que não faça parte de sua comunidade, possa entender. Então esse é o desafio: o de aprofundar sua compreensão de sua própria história, sua própria experiência. A mudança começa na entrevista e continua, porque esse diálogo põe em pauta o reconhecimento do significado, da importância cultural do mundo dos entrevistados. A mudança que buscamos é uma mudança que dê mais poder aos sem-poder. E que lhes dê mais poder para que a sua cultura seja reconhecida como cultura. Para que se reconheça que não há somente uma cultura, a das elites, somente uma maneira de fazer cultura e que seja essa a maneira; que existe uma pluralidade de culturas, de níveis culturais, e que há uma luta de classes na cultura, na arena cultural – uma luta de classes não menos importante do que a luta de classes que existe no nível econômico, ou político, porque a luta de classes na cultura é a base do reconhecimento dos sujeitos que têm direitos, que têm saberes, que têm uma identidade. É, então, o início de uma mudança de relações de poder.
Dizia Gianni Bosio, historiador italiano: “A intenção do trabalho cultural é de armar a classe de suas próprias armas, de fazer de modo que os excluídos, os explorados, os marginalizados se dêem conta da importância de suas vidas, de seu saber, de suas palavras. E se dêem conta de que é um saber social, é um saber coletivo. E que nós, os intelectuais, que trabalhamos nessa arena, devolvamos seu saber de uma maneira mais crítica, mais analítica, do que como o recebemos. Trata-se não só de recolher as suas histórias, de recolher as suas palavras. Isso é só o primeiro nível. Então vem o trabalho de analisá-las, de conectá-las, de levá-las a um nível de análise superior, e depois de trazê-las de volta às fontes”. Bosio também dizia que o trabalho cultural só pode desenvolver-se em condições de liberdade e de igualdade. Portanto, o trabalho cultural, para sua própria vida e sua própria verdade, necessita criar as condições de sua própria existência e possibilidade. Isso é dizer que o trabalho cultural precisa tornar-se trabalho político de igualdade, de dignidade, de liberdade, para ser trabalho intelectual, para ser trabalho cultural. Em condições de falta de liberdade, de falta de igualdade, o trabalho cultural está “menorizado”, está em condições de “minoria”, de falta de crédito.
Vejamos um exemplo de como o trabalho cultural se transforma em trabalho político na Itália, agora. Bem, a coisa importante é que quando falamos em memória, não falamos de um “espelho do passado”, mas de um fato do presente, porque o conteúdo da memória pode ser o passado, mas a atividade de recordar, a atividade de contar a história do passado é uma atividade do presente, e a relação que se coloca é uma relação entre presente e passado. É agora que recordamos, é hoje que falamos do passado, que contamos o passado. E a memória não é só um espelho de fatos, mas um fato histórico: a própria memória é um fato histórico em si. Não há apenas uma memória da História, há também uma história da memória: como muda, no curso do tempo, a maneira de recordar fatos históricos.
Na Itália, um dos motivos pelos quais a História Oral tem sido reconhecida é que, desde a metade dos anos 90, a questão política da natureza da democracia se colocava como questão de memória histórica. Porque a base da democracia italiana, a base dessa Constituição italiana de que muito nos orgulhamos, dessa Constituição maravilhosa, se situa no movimento de Resistência Antifascista dos anos 1943-45. A democracia italiana é criada como uma narração de origens, que é uma narração antifascista. Na metade dos anos 90, a direita então no poder, na Itália, é uma direita que diz que não é mais fascista; no melhor dos casos, é uma direita que não considera o antifascismo um valor positivo. É uma direita racista, a Liga do Norte, e o discurso político da direita anti-antifascista que domina hoje na Itália, e que controla a maioria dos meios de comunicação, é um discurso de revisionismo histórico, é um discurso que se coloca contra a narração antifascista da Resistência. Sendo assim, a maneira como se recorda a Resistência não é só uma questão de batalha de historiadores, de batalha historiográfica, mas uma questão que implica as perguntas: em que país estamos vivendo? Quais são os valores e os princípios de nossa vida social compartilhada? Agora, a TV, a maioria dos meios de comunicação, o discurso político também – inclusive vindo de parte do que foi a esquerda – é um discurso que diz que não havia, na verdade, uma diferença entre os fascistas, que lutavam ao lado dos nazistas, e os partisanos, já que os partisanos eram comunistas e os comunistas são todos criminosos. Então era a mesma coisa, no melhor dos casos; ou eventualmente os fascistas eram até melhores porque eram patriotas, enquanto os partisanos estavam a serviço de Stálin, ou algo assim.
Nesse sentido, o trabalho sobre a memória da Resistência, sobre a memória do antifascismo, é uma tarefa ideal, ética e política contemporânea. A maneira como os entrevistados nos contam o que recordam da guerra, da Resistência, do movimento operário dos anos 50 e 60, dos movimentos estudantis de 1968, toda essa memória sofre um “deslocamento” – o poder hoje quer apagá-la. Analisar criticamente essa memória e tê-la presente no discurso político, no discurso público, no discurso historiográfico não é só uma questão de fazer uma História profissionalmente, academicamente correta. É isso também, porque o revisionismo histórico não tem nada de científico nem de academicamente respeitável; é, portanto, uma tarefa acadêmica, uma tarefa científica. Porém sua primeira função, sua função mais importante é uma função política e ética. Digo política porque se trata de lutar contra as ideologias que têm o poder atualmente e de proteger a Constituição. Mas é também uma questão ética, porque o antifascismo, hoje, não é só repetir as batalhas de sessenta anos atrás: é uma questão de relações entre pessoas vivas, agora. O antifascismo hoje é a prática cotidiana do anti-racismo, do anti-sexismo. O antifascismo hoje significa opor-se às leis racistas que acabam de ser aprovadas pelo parlamento italiano, bem como a uma cultura da mídia, e de poder, que despreza as mulheres e o corpo das mulheres, tratando-as como símbolo de status, como algo a consumir.
Para concluir, é uma questão política e moral, porque a concentração do poder da palavra, do poder de comunicação em pouquíssimas mãos – todas as televisões da Itália são controladas por somente uma pessoa, Silvio Berlusconi –, porque a concentração do poder da mídia, dos jornais, da televisão em poucas mãos, controladas pelo poder político, nos coloca as questões políticas e éticas de encontrar outros espaços de palavra livre, outros espaços de comunicação alternativa.
E por último: se buscamos palavras, é porque o direito mais fundamental é o direito de falar e de ser escutado. Muito obrigado.

15 dicembre 2010

Una storia del movimento per i diritti civili

"l'Indice", dicembre 2010

Nell’estate del 1981 ero nell’ufficio di Myles Horton alla Highlander Folk School in Tennessee. Mentre parlavamo, entra una collaboratrice e dice, “c’è Rosa Parks al telefono”.
Alla giustamente celebre Rosa Parks e all’ingiustamente poco conosciuto Myles Horton dedica pagine puntuali ed eloquenti, Nadia Venturini in Con gli occhi fissi alla meta. Il movimento afroamericano per i diritti civili 1940-1965, l’analisi più approfondita e la sintesi più completa di questa vicenda che sia apparsa finora in Italia (Franco Angeli, 2010, 426 pagine, E. 44). Rosa Parks era la mitica signora di Montgomery, Alabama, che rifiutandosi di lasciare un posto riservato ai bianchi su un autobus aveva messo in moto il boicottaggio che segnò una svolta decisiva nel movimento dei diritti civili. Myles Horton era il fondatore della scuola di base di Highlander, che nel Sud segregazionista aveva formato quadri sindacali negli anni ’30, attivisti dei diritti civili negli anni ’50 e ’60, e militanti ambientalisti e di comunità negli Appalachi fino ad oggi.
Sentire che “Rosa Parks è al telefono” significò improvvisamente rendermi conto della realtà di una figura che era sempre stata collocata nella sfera del mito. Quando Myles mi spiegò che prima di quel suo storico gesto Rosa Parks aveva partecipato a un workshop a Highlander (e aveva anni di impegno nella NAACP, la National Association for the Advancement of Colored People), capii che non si era trattato, come era stato raccontato, di una vecchia signora coi piedi stanchi che non ce la fa ad alzarsi, ma del gesto consapevole di un’attivista cosciente. E che il movimento dei diritti civili non era stato solo sofferenza, passione, emozione, sacrificio - ma anche, meno romanticamente ma in modo più maturo – intelligenza, soggettività, organizzazione: in una parola, politica. Senza perdere nessuna delle connotazioni che ne avevano fatto un mito, il movimento entrava nella storia.
Questo è infatti l’impianto del libro di Nadia Venturini. Senza dimenticare le passioni, le sofferenze, le vittime, l’autrice segue in modo minuzioso ma mai pedante le vicende politiche e organizzative. Una rapida sintesi del retroterra storico a partire dagli anni della Ricostruzione dopo la Guerra Civile mostra quanto profonde fossero le radici del movimento che esplose negli anni ’50: infatti, come sottolinea Venturini, figure centrali come Ella Baker e A. Philip Randolph datano il loro impegno e il loro lavoro organizzativo da diversi decenni prima.
Venturini ricostruisce giorno per giorno le fasi cruciali del movimento, da Montgomery ad Albany, da Birmingham a Selma. Così, nella vicenda del boicottaggio di Montgomery rende giustizia a una figura decisiva come il ferroviere e sindacalista E. D. Nixon, che ne fu l’anima politica e organizzativa: fu lui a rendersi subito conto che l’arresto di Rosa Parks, lavoratrice irreprensibile e rispettata, era l’occasione giusta per mobilitare la comunità (mi è stato più volte raccontato che altre donne in precedenza avevano opposto lo stesso rifiuto; ma erano tutte in qualche modo screditabili, non avevano la stessa consapevolezza, e non esistevano le condizioni organizzative).
E. D. Nixon lo ricordano solo gli storici e i reduci del movimento; la figura che tutti identificano con Montgomery e con tutto quello che venne poi è il giovane pastore Martin Luther King, Jr. “Non è stato King a creare il movimento”, dirà poi E. D. Nixon, “ma il movimento a creare King”. Tuttavia da questo libro King non esce ridimensionato, ma reso più articolato e complesso: il suo carisma e la sua oratoria sono solo l’aspetto visibile di un faticoso impegno per tenere unito il movimento, creare sintesi praticabili fra le sue componenti, e rappresentarlo davanti al potere locale e federale. Tutti identificano la Marcia su Washington del 28 agosto 1963 con l’indimenticabile discorso di King; ma Nadia Venturini ci ricorda che gli interventi furono molti, diversi e anche problematici: basta pensare alle complesse mediazioni per limare il radicalismo dell’intervento di John Lewis dello SNCC.
Alcune parti del libro sono narrativamente appassionanti. La dettagliata cronaca della campagna di Birmingham, per esempio, crea un autentico senso di suspense che si risolve con la clamorosa entrata in scena degli adolescenti, la “crociata dei bambini” delle scuole medie. Tuttavia, Venturini non indulge ad emozionalismi: anche tragedie come la strage delle bambine nella chiesa di Birmingham o l’assassinio di Viola Liuzzo sono raccontate con la sobrietà dell’understatement. Venturini menziona solo di passaggio l’aspetto culturale, l’uso della musica, la relazione ambivalente che attraverso la musica si istituisce con la memoria della schiavitù. Se ne sente un poco la mancanza; ma è un modo per dirci che, in un’epoca in cui media e politica traboccano di richiami alle “emozioni”, il convolgimento e il rispetto non passano attraverso facile pietà e commozione, ma attraverso la conoscenza.
La possibile relativa sottovalutazione della spontaneità è peraltro compensata dall’attenzione ai livelli dell’organizzazione. Venturini descrive le vicende e i protagonisti della Southern Christian Leadership (SCLC) di Martin Luther King – e di Ralph Abernathy, James Lawson, Andrew Young; ma dedica capitoli anche alla Highlander Folk School, al Southern Educational Fund di Carl e Anne Braden (due degli eroi del radicalismo bianco del Sud), al Congress for Racial Equality (CORE) e allo Student Non Violent Coordinating Committee (SNCC).
L’unità del movimento nelle fasi cruciali ha fatto sì che venisse percepito a volte come un’unità indifferenziata. Ma Ventuirini mostra invece come vi si rifletta la complessità di tutta la società afroamericana. Il libro segue le stratificazioni generazionali (dalla generazione ante-guerra di Ella Baker e Randolph a quella di mezzo di Martin Luther King e dei suoi collaboratori, a quella dei giovani delle università, delle scuole medie, dello SNCC) e soprattutto di classe: da un lato, figure come E. D. Nixon e A. William Randolph che venivano dal sindacato; Bayard Rustin, scomodo per la sua omosessualità e la sua vicinanza alla sinistra, ma fondamentale per l’intelligenza organizzativa e politica; Fred Shuttleworth, proveniente dalle fasce più povere del Sud rurale. Dall’altro, i pastori, professionisti, uomini d’affari neri – le loro riluttanze e dubbi, e le loro mediazioni, spesso decisive nei momenti di crisi.
Tutto è attraversato dalla differenza di genere: Venturini sottolinea il ruolo delle estetiste afroamericane, i cui negozi diventano imprevedibili centri di informazione e di organizzazione; delle sarte e cucitrici come Rosa Parks; delle insegnanti come Septima Clark, protagonista delle “scuole di cittadinanza” che preparavano i neri per la conquista del diritto di voto. Ma la figura più memorabile è quella di Fannie Lou Hamer, bracciante cinquantenne del Mississippi, la cui resistenza comincia nel momento in cui – proprio come tante donne nella Resistenza italiana – ospita in casa gli attivisti venuti a organizzare i braccianti per il diritto di voto nel posto più pericoloso d’America. Come nella Resistenza, basta questo a rischiare la morte, a vedersi buttar fuori dalla casa e dalla piantagione dove ha lavorato tutta la vita. Ma da quel momento la voce straordinaria di Fannie Lou Hamer si alza, in canto e in oratoria, a far risuonare i diritti, l’intelligenza e il coraggio di un movimento che neppure la violenza che la rese invalida per tutta la vita bastò a far tacere.

03 dicembre 2010

"They say in Harlan County". Le lotte dei minatori del Kentucky

"They say in Harlan County". Le lotte dei minatori del Kentucky nell'ultimo libro di Alessandro Portelli
intervista ad Alessandro Portelli di Susanna Marietti - pubblicata sulla rivista "Terra" il 2.12.

“They say in Harlan County. An oral history”: è questo il titolo dell’ultimo libro di Alessandro Portelli appena pubblicato per la Oxford University Press, che avremo in Italia i primi mesi del prossimo anno. Attraverso interviste raccolte lungo ben 25 anni, il volume – che le recensioni qualificano come indimenticabile – racconta un’intera cultura, quella della contea di Harlan nel Kentucky, famosa per le lotte dei minatori e per la tradizione di protesta dei lavoratori. Portelli insegna letteratura angloamericana all’Università La Sapienza di Roma ed è uno dei massimi esperti mondiali di storia orale. Con questo metodi ci ha regalato in passato moltissimi racconti, che spaziano dalle lotte operaie a Terni alle Fosse Ardeatine e altro ancora.
Alessandro Portelli, come nasce quest’ultima fatica (ed è il caso davvero di chiamarla così)?

La prima intervista di questo libro è in realtà del ’73. Dunque sono 37 anni che ci lavoro, ma 25 sono quelli in cui sono andato lì ogni anno. Ora che il libro è finito devo trovare un’altra scusa. Ormai quella è casa mia, ho persone cui voglio bene che devo continuare ad andare a trovare. La nascita del libro è, possiamo dire, proprio sessantottina. Parte dalla passione americana che coltivavo dagli anni della scoperta del rock’n’roll e poi dei movimenti per i diritti civili. E della scoperta di un patrimonio musicale, perché Harlan è uno dei grandi luoghi da cui viene la musica americana. Qui c’erano canzoni di protesta molto radicali.

Compresa quella da cui viene il titolo del libro, no?

Sì, è una canzone anch’essa degli anni ’30. “They say in Harlan County there are no neutrals there…”. A Haran County ti dicono: guarda che non si può essere neutrali. O fai il crumiro o stai col sindacato.. Insomma: la scoperta di una cosa che in qualche modo la nostra pubblicistica negava. Per usare una parola desueta, la lotta di class. Negli Stati Uniti, paese dove si affermava che le classi non esistessero. Questo mi affascinò molto. E mi affascinò la relazione che esisteva tra una storia di conflitto sociale e una straordinaria ricchezza di patrimonio musicale, narrativo, di cultura orale. Quindi il fascino veniva proprio da questa idea di un luogo dove non solo c’erano state le lotte, ma queste lotte erano state raccontate con gli strumenti della cultura popolare e della cultura orale.

I documenti scritti, veritieri o menzogneri che siano, restano immutati. Interrogando una persona due volte sullo stesso argomento, accadrà invece innanzitutto che lo racconterà con parole - e quindi con sfumature - diverse. Ma, soprattutto, potrà essere diversa la sua memoria. Come è riuscito a risolvere il problema della memoria delle persone intervistate?

Intanto in una maniera molto semplice: le interviste sono tutte datate. Quando è rilevante il momento in cui sono state fatte lo dico già nel testo. Poi nell’appendice c’è sempre la data, per poterle collocare nel tempo. Ho puntato soprattutto ad ampliare il numero delle persone intervistate, però con alcune ho avuto invece un rapporto longitudinale. Dopo i primi anni, sono stato ospite di una famiglia di minatori, di lavoratori. È una famiglia che ho intervistato nel corso di 25 anni. Pensate che ero presente il giorno in cui un bambino della famiglia è nato, e 25 anni dopo l’ho intervistato. Altro che cambiamento della memoria...

Ci saranno stati anche quelli in tutti questi anni.

Devo dire che non ho verificato particolari contraddizioni o trasformazioni. Si tratta più di un senso di nuova relazione con nuove situazioni. Per fare un esempio: quando facevo le prime interviste, la memoria del disastro ambientale prodotto dalle miniere a cielo aperto era molto viva. Viceversa, era quasi dimenticato il disastro ambientale prodotto dal taglio delle foreste. Ma siccome a metà degli anni ‘90 ricominciarono a tagliare le foreste, ecco che questa memoria è tornata viva ed è tornata in discussione. L’altro elemento molto importante è ovviamente l’oblio, la cancellazione, il silenzio. Alcuni di questi momenti di conflitto sociale, di lotta di classe, che noi troviamo così gloriosi, sono ricordati anche con sofferenza e difficoltà. E quindi spesso sono cancellati. Quello dei silenzi, delle censure, è un tema che nel libro è presente.

Il tema della memoria mi sembra tocchi un nodo strutturale della storia orale. La memoria, come abbiamo detto, è fallibile. Ma c’è anche un altro aspetto della questione: la testimonianza di una persona può essere veritiera dal suo punto di vista, ma può essere tuttavia falsa perché quella persona aveva accesso a fonti fallaci. Le chiedo: quanto è importante che la storia orale sia rispondente alla realtà e quanto invece la sua importanza sta nel parlarci parla della percezione della gente intervistata?

Ho sempre sostenuto che per poter capire che percezione hanno le persone dobbiamo sapere cos’è l’oggetto che percepiscono. Quindi dobbiamo lavorare su due piani: sulla ricostruzione, nella misura in cui è possibile, dei fatti. E questo lo facciamo tra l’altro basandoci anche su documenti scritti, che sono esattamente altrettanto fallibili quanto gli altri, sia pure magari per ragioni diverse. Non è che una cosa che è permanente è automaticamente vera: può essere anche un errore che si tramanda nei secoli. Comunque lo facciamo sicuramente intrecciando una molteplicità di fonti (intanto, appunto, intrecciando sullo stesso evento trenta persone che me lo raccontano, oltre alle fonti a stampa, ai giornali, agli archivi, alla pubblicistica). Quindi è assolutamente importante per la storia orale sapere che cosa è successo, nei limiti in cui lo si può sapere. Perché solo se sappiamo che cosa è successo possiamo ragionare sul significato di eventuali scarti, di eventuali silenzi, di eventuali errori, anche di eventuali menzogne. Dunque bisogna fare il lavoro dello storico. E poi bisogna fare anche il lavoro dell’antropologo, dello psicologo, del narratologo, di quello che è. Cioè bisogna vedere la relazione.

Ci fa capire meglio?

In questo periodo sto tenendo un corso sul “Benito Cereno” di Melville. Questo romanzo racconta un fatto veramente accaduto. Però il fatto è veramente accaduto nel 1821 e la nave si chiamava El Juicio. Nel romanzo di Melville è collocato nel 1799 e la nave si chiama San Dominique. Sta mentendo o sta costruendo senso? Noi ci rendiamo conto che sta costruendo senso precisamente perché sappiamo che ha alterato i dati di fatto. Questo vale per un testo letterario e vale per tutte le narrazioni, e in particolare appunto per narrazioni così soggettive, così personali come sono quelle della storia orale. L’altro discorso è quello della mobilità della storia orale, della memoria, cioè appunto una persona dimentica, ricorda o racconta diversamente nel corso del tempo. Una delle cose che noi facciamo, io credo, è un lavoro di una storia della memoria. Come le Fosse Ardeatine venivano raccontate dai protagonisti nel 1950 poi nell’80 poi nel ‘90 è molto affascinante perché mostra la memoria come lavoro non come deposito. La memoria non è un testo, ma è una performance. Io tendo a preferire il verbo “ricordare” al sostantivo “memoria”.

Quindi c’è una trasformazione anche all’interno del suo racconto?

Sicuramente c’è una trasformazione all’interno del mio racconto, nella misura in cui il mio racconto documenta le trasformazioni dei racconti che ascolto. Quando ho cominciato a fare storia orale l’ho fatto perché mi accorsi che un certo episodio cruciale della storia del movimento operaio a Terni veniva raccontato in modo sbagliato da un sacco di gente . Quindi ci doveva essere qualche senso in questo errore. Questo mi deriva naturalmente dal fatto che, provenendo dalla letteratura e non dalla storia, so benissimo che Renzo Travaglino non è mai esistito, ma non per questo penso che i “Promessi Sposi” non significhino niente. La prima cosa che feci fu andare a guardare l’archivio, andare a guardare gli atti giudiziari, quindi i documenti scritti. La prima frase del primo documento che apre il fascicolo è la seguente: “da testimonianze verbali raccolte risulta che…”. L’intero apparato della documentazione scritta giudiziaria comincia cioè con testimonianze verbali. E a questo punto mi domando: raccolte da chi? Raccontate da chi? Trascritte come? Se la memoria è fallibile, quanto è attendibile quel verbale? Come si chiamava il brigadiere che l’ha scritto? Con chi aveva parlato? Tra l’altro, nessuno scrive nello stesso momento in cui avvengono le cose, ma sempre con qualche distanza di tempo, sia pure breve. C’è dunque memoria già nel documento scritto. La questione della memoria si pone sempre, non soltanto con le fonti orali. Solo che con le fonti orali è centrale, si pone in maniera drammatica, assolutamente pervasiva. Un grande storico come Nicola Gallerano, dopo che avevamo avuto lunghi incontri e discussioni, scrisse che la storia orale mette in discussione l’intero apparato delle fonti. Penso che in qualche modo molti degli storici più avvertiti, Claudio Pavone ad esempio, se ne siano resi conto e ci abbiano ragionato.

Oggi in dieci milioni in Italia guardiamo il programma di Saviano e Fazio che sta muovendo qualcosa. Una delle caratteristiche precipue della storia orale è senz’altro questo: le interviste sono fatte non ai primi ma ai secondi, non si intervista solo Clinton ma si intervista il minatore. Quel programma un po’ sta facendo questo: porta i secondi a leggere gli elenchi e a parlare. Di che tipo di cultura si tratta secondo lei?

A me piace molto. Penso che sia il meglio della cultura civile di questo paese. Welby, Englaro, il rappresentante delle vittime di Brescia, con la dignità e la fermezza con cui parlano, esprimono il meglio della cultura civile che l’Italia, in un momento in cui tanta gente dice di vergognarsi di essere italiana, è comunque ancora capace di produrre.